Pinheirinhos Petistas
É totalmente normal militar para (ou
mesmo apenas gostar de) um partido político. Mas é desonesto, para dizer
o mínimo, quando essa militância (ou gosto) está oculta em falsas
militâncias temáticas. Isso vale para liberdade de expressão, feminismo,
GLBTT, sem-teto etc. Quem milita REALMENTE pela causa, sabemos, não
está nem aí para partidos – e, por consequência, não importa a qual
legenda se filia determinado político responsável por eventual
contratempo em sua “área”.
No Brasil, infelizmente, a minoria é assim.
Vejam o caso Pinheirinho: humanistas de
todos os gêneros e classes verteram lágrimas em nome dos pobres coitados
que ficaram sem casas. Sim, isso é um grande desastre. Mas o que
exatamente se faz, agora, em defesa dessa gente? Salvo exceções bem
microscópicas, a maioria aproveitou e aproveita a circunstância para
atacar o adversário.
É do jogo? Depende. Porque o jogo vira.
Ontem, no DF, 70 famílias foram retiradas
de uma fazenda pertencente à União Federal. A ação é da polícia do
Distrito Federal e não ocorreu mediante qualquer ordem do judiciário:
simplesmente mandaram a polícia destruir os barracos e expulsar o
pessoal de lá. Ah, sim, 29 pessoas foram detidas.
Quem comanda a polícia do DF é o petista
Agnelo Queiroz e, sob suas ordens e sem mandado judicial, três tratores
destruíram os barracos de quem ocupava a Fazenda Sálvia. O governador
agiu sob solicitação da SPU – Secretaria de Patrimônio da União –
obviamente um órgão federal, que dispôs da PM do DF.
Há diferenças com o “Caso Pinheirinho”?
Sim, a primeira delas é que, desta vez, nenhum militante por direitos
humanos, moradia ou qualquer outra causa reclamou. Houve quem
defendesse, aliás. Quando houve a reintegração no “Pinheirinho”,
inventaram sete mortos. Agora, talvez por prudência, ninguém falou nada.
Ou talvez porque o governador é petista, enfim…
Mas há mais diferenças. A PM, em São
Paulo, seguia uma ORDEM JUDICIAL, algo que não passa – e nem poderia
passar – pelo chefe do executivo. O magistrado emite uma ordem e a PM
cumpre. Fim. No DF, ao contrário, não houve esse detalhe da ação
judicial. Chegaram com tratores e despedaçaram as casas de quem ali
estava. Ação direta do governador do estado, sob comando do Governo
Federal (!?!).
Mais uma diferencinha: não há aquela
miríade de gente fazendo oba-oba partidário, ou filmando em câmera lenta
e som dramático, ou fazendo “live tweeting” dos eventos. Nada disso.
Quando o governo é do adversário, até se amarram na frente de emissora;
quando é deles, dão migué.
Essa turma não liga para causa alguma, pois em primeiro lugar vem sempre o partido. Há dois exemplos recentes que comprovam isso: uma mulher e um rapaz ficaram
cegos de um olho por conta de repressão policial. Ela na Bahia
(governada pelo PT), ele no Piauí (governado pela aliança PSB/PT). Os
militantes partidários, claro, não falaram nada. É o mesmo silêncio
constrangedor – mas não propriamente constrangido – de sempre.
E a lógica sem lógica vale para qualquer
tema. Esse tipo de militante aproveita qualquer circunstância das
formas mais antiéticas – até mesmo inventando mortos! –, tudo para fazer
picuinha partidária.
Vejam o caso da USP, em que um policial
REALMENTE exagerou na autoridade, foi imperdoavelmente truculento e, com
isso, foi corretamente afastado. Quem não lembra a revolta na redes
sociais? E agora, diante desses dois casos, com gente que ficou CEGA por
ação da polícia? Silêncio obsequioso.
Porque essa gente não liga pra desgraça
dos miseráveis, mas sim a usa para atacar adversários. Prova disso é
que, quando o descalabro acontece sob governantes de seu partido, não
falam nada. Danem-se os pobres sem-teto e as pessoas cegas pela
repressão policial.
Primeiro o partido, depois a causa.
fonte: implicante.org
http://www.implicante.org/artigos/os-pinheirinhos-petistas/